Desenvolvimento gradual de competências: “I do, we do, you do”

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Você sabe como desenvolver competências de forma mais eficaz? Eu sou Wagner Cassimiro e este é o Espresso3.

O desenvolvimento de competências pode ser aprimorado ao se trabalhar com o Modelo de Transferência Gradual de Responsabilidade, popularmente conhecido como I do, we do, you do.

Este modelo permite a evolução da proficiência do indivíduo de forma suportada ao longo da jornada de aprendizagem. No início, o facilitador tem um papel central na aprendizagem, sobretudo na entrega de conteúdo e na demonstração. Com o tempo, o aprendiz vai se tornando cada vez mais confiante e confortável, até se tornar autônomo no processo de aprendizagem.

Antes de explicar os quatro passos do modelo, é importante mencionar sua origem. O GRR Model (do inglês Gradual Release of Responsibility) foi cunhado pelos pesquisadores Pearson e Gallagher em 1983 e tem relação com o conceito de “instructional scaffolding”, que oferece suporte no processo de aprendizagem ajustado à evolução do aprendiz. Ambos têm raízes no conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal de Vygotsky, que representa o potencial de realização com orientação além do que o indivíduo é capaz de realizar sozinho.

Agora vamos aos quatro passos!

O primeiro passo, representado pelo I do (do inglês: eu faço) representa a instrução direta e a demonstração. O facilitador contextualiza o assunto, explica os conceitos, comunica os propósitos e resultados esperados. Também, atua na modelação, demonstrando como desempenhar e a maneira certa de se fazer, bem como os possíveis erros e o que deve ser evitado.

Os aprendizes têm uma posição passiva neste processo. Eles observam, escutam, tomam notas e tiram suas dúvidas. Em outras palavras, trata-se de uma abordagem tradicional de exposição, focada em conteúdo.

O segundo passo, representado pelo we do (do inglês: nós fazemos) representa a instrução guiada. O facilitador passa as instruções, os passos a serem feitos, conduz a atuação dos aprendizes nas tarefas e fornece feedback imediato.

Os aprendizes começam a assumir a responsabilidade e conforme vão adquirindo proficiência, o facilitador vai diminuindo seu suporte, ou mesmo elevando o patamar de exigência.

Este é o passo mais crítico, pois se trata da aplicação inicial. O facilitador deve estar atento ao estágio em que se encontram os aprendizes e contribuir para que eles possam ir além com seu suporte. Tudo isso, mantendo o engajamento.

O terceiro e quarto passos são representados pelo you do. Respectivamente, a atuação em grupos e individualmente. Neste passo, a autonomia do aprendiz predomina e a atuação do facilitador é secundária.

Trabalhar em grupos heterogêneos de forma colaborativa permite ir mais profundamente na aplicação e em maior grau de complexidade. Novos desafios são propostos explorando discussão, negociação, solução de problemas e reflexões.

Individualmente, o aprendiz pode promover a síntese de informações, a transformação de ideias e a solidificação da compreensão. Entretanto, o que se espera mesmo do indivíduo é que ele seja capaz de aplicar o que aprendeu em novas situações do seu dia a dia. Inclusive, superando desafios cada vez maiores. A partir deste ponto, a evolução desta nova competência é de responsabilidade dele.

Em um exemplo bem simples, um chef fala sobre um prato e demonstra seu preparo (“I do”), depois guia o primeiro preparo dos aprendizes (“we do”), depois atribui tarefas para que os jovens cozinheiros façam em conjunto (“you do it together”), por fim cada jovem cozinheiro explora e começa a dar seus toques pessoais no prato (“you do it on your own”).

Algumas reflexões finais. A duração de cada estágio pode variar de um dia, uma semana, um mês, um ano e por aí vai. Este modelo pode ser aplicável tanto em uma única ação educacional, quanto em uma trilha de aprendizagem como todo. É importante ressaltar que esta sequência nem sempre é linear, pois os aprendizes podem ir e voltar nos passos conforme sua necessidade e coerência com o desenvolvimento. Também, que a atuação em conjunto é opcional.

Por fim, novas reflexões da aplicação deste modelo podem ser feitas com a adoção da tecnologia e de uma abordagem educacional mais híbrida.

Não se esqueça: “I do, you do, we do”. E, não perca: Espresso3 todas às terças-feiras.

Fontes consultadas:

Fisher, D. & N. Frey. “Better Learning Through Structured Teaching: A Framework for the Gradual Release of Responsibility”. Association for Supervision and Curriculum Development, Alexandria, Virginia, 2008.

Pearson, P.D. & Gallagher, M. “The Instruction of Reading Comprehension”. Contemporary Educational Psychology, 8, p. 317-344, 1983.

Desenvolvimento gradual de competências - Síntese

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