Série ICKM SUCEG 2019 |3 de 14| Passado e futuro da gestão do conhecimento no Brasil

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Olá, voltamos aqui ao SUCEG ICKM 2019 e meu próximo entrevistado é o professor da UFSC, o prof. Roberto Pacheco. Nós vamos falar sobre o passado e o futuro da gestão do conhecimento no Brasil.  Eu sou Wagner Cassimiro e este é o Espresso3.

Tudo bem, professor?

Tudo bem, Wagner.

Nós estamos aqui no mote de comemoração dos 15 anos do seu núcleo de pesquisa em Gestão do Conhecimento. Eu gostaria que você fizesse um balanço do que é a gestão do conhecimento no Brasil ao longo deste período.

Perfeito! Nosso programa de pós-graduação em gerir gestão do conhecimento completa 15 anos. Muita coisa aconteceu nestes 15 anos e também no período que antecedeu a criação do nosso programa na gestão do conhecimento brasileira tanto no lado da relação de consultoria e de entrega de serviços para as organizações quanto na própria academia.

Nós, no nosso programa nestes 15 anos, procuramos combinar estes dois universos. Com uma formação de doutores e mestres que vamos completar agora 350 doutores e 310 mestres, 20% dos quais já atuam na sociedade não acadêmica. Lógico que a grande maioria atuando ainda na academia, pois esta é a missão precípua de um programa stricto sensu.

Em síntese, para responder a sua pergunta, eu acho que é uma evolução, primeiro, de uma primeira fase de diferenciação, de mostrar a necessidade, de tratar o conhecimento como diferencial das tecnologias da informação, dos dados e do poder integrador de processos, pessoas e tecnologias nas organizações e no quanto isso teria potencial de diferenciação das organizações.

No momento, para lembrar, que nós saíamos da qualidade organizacional e da eficiência de produtos e serviços como a grande demanda das empresas. Então, gestão do conhecimento, inovação naquela primeira fase ainda era algo futuro, de investimento futuro.

Com a transformação digital crescente e, realmente, o uso, a velocidade de uso do próprio capital humano dentro das organizações e fora, estes temas foram se tornando precípuos, emergentes e sem donos, multidisciplinares, de várias áreas.

O Brasil lamentavelmente, ainda tem uma estrada na comparação competitiva com o que está acontecendo principalmente na geração de empresas e de oportunidades de empregos competitivos em nível mundial, ainda somos uma nação mais importadora do que exportadora de serviços de inteligência. Este é um tema de casa que a nação ainda tem que cumprir e para isto precisa de todo o ecossistema trabalhar em harmonia.

Prof. Roberto, há diferenças entre visões de gestão do conhecimento, aqui, intramuros de universidade e o mundo externo?

Como todas as áreas temos as diferenças culturais de posicionamento da ciência, do posicionamento governamental e da agenda de indústrias.

Uma das diferenças que nós percebemos nas organizações que estão à frente, primeiro a existência de um plano nacional claro de o que a nação quer ser no futuro nestas áreas integrador. Não só, por exemplo, um plano de IoT, ou internet das coisas, que já temos e é ótimo, mas um plano integrador onde estas várias frentes se integrem e que possam especialmente engajar, governo, academia e empresas em propósitos de uso comum. Porque todas as soluções que têm ganho escala planetária, elas nunca são só de um dos atores, há uma convergência e uma ação de competências buscando este resultado.

Que ainda está um pouco fragmentado.

Bastante fragmentado e, eu diria, que nesses tempos recentes com até fragmentações ideológicas e de posicionamento sobre isso. Parte da nossa academia se este é um movimento para uma humanidade melhor, se este é o papel das universidades, formar estudantes que gerem startups para a era digital. Temos que reconhecer que ainda existe este questionamento e é um questionamento que pode ser produtivo também, no sentido de se formar cidadãos que não sejam simplesmente apertadores de botões e imersos em um mundo digital, mas sim críticos e formadores de bens comuns. É importante as ciências humanas trazerem esta reflexão.

Nós temos percebido uma série de doenças associadas ao uso excessivo de tecnologias, mas ao mesmo tempo é um momento de oportunidade para todos. Se nós tivermos uma agenda convergente e construí-las, temos espaço para todos trabalharem e com resultados proeminentes. É o que temos feito nestes 15 anos.

Agora se olharmos para a frente, o que está por vir?

Isso sim! Discutimos bastante aqui no evento esta frente. Como tudo que está por vir, há uma série de incertezas, mas eu acho que algumas também convicções.

Primeiro há um questionamento dos modelos institucionais que temos. A nossa universidade, por exemplo, segue na sua grande maioria o modelo de William Humboldt, que foi do século 19, com a tríade extensão, pesquisa e formação e se estruturou organizacionalmente para cada um dos seus eixos cuidar de uma das tríades, quando hoje as soluções são de convergência. Você não aprende pra aplicar, aplica pra aprender. Você faz tudo ao mesmo tempo e a formação é conjunta.

O surgimento do autoaprendizado, das tecnologias e da modificação dos graus de certificação de competências que as universidades estão acostumadas, com tempos de titulação de 4 anos, 5 anos, 3 anos, hoje as competências requerem entregas mais rápidas e mais precisas e há uma diversidade até de novas, não só profissões, mas oportunidades de trabalho. Isto vai trazer, do ponto de vista da academia, uma pressão para que nós modifiquemos e atualizemos os nossos processos formadores.

Do lado das empresas, eu diria que a pressão ainda é maior, porque as que não agirem rapidamente no novo contexto vão perdendo espaço e competitividade.

No lado governamental eu gosto muito do modelo que o Japão tem trazido para a discussão do Governo 5.0, quer dizer, para brincar com a turma que gosta de futebol. Seria aquele árbitro que não precisou usar o VAR, ou seja, o jogo acontece e o governo é provedor das condições e o cidadão sente ele presente na segurança, na equidade de princípios, mas ele não é tão interventor quanto acontece muitas vezes em um sistema mais burocratizado.

Muito obrigado!

Resumo da conversa entre Prof. Wagner Cassimiro e Roberto sobre Passado e futuro da gestão do conhecimento no Brasil - Série ICKM SUCEG 2019

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