Olá, estamos de volta ao ICKM 2023, e agora eu estou com o professor Mateus Gerolamo. Ele é professor da Universidade de São Paulo e nós vamos falar sobre os aspectos humanos na aprendizagem de tecnologias. Eu sou Wagner Cassimiro e este é o Espresso3.
Vamos lá! Como desenvolver tecnologias a serviço da humanidade?
Obrigado pela pergunta, Wagner. Primeiro, agradeço a oportunidade de estar aqui em Florianópolis e participar do congresso, no tópico de gestão do conhecimento.
Uma das áreas que eu trabalho é na área de ensino de engenharia. Eu ensino alunos de graduação, e um aspecto importante é esse: como os alunos passam cinco anos no curso de engenharia se formando enquanto profissionais e o que eles vão fazer?
É muito comum que nós tenhamos um viés pesado em tecnologia, ciência e matemática. Então, o tema da minha palestra era STEM, que é uma sigla em inglês que significa:
- S de Science, ou ciência;
- T de Technology, ou tecnologia;
- E de Engineering, ou engenharia;
- M de Mathematics, ou matemática.
Mas a Alexandra, que me fez o convite, falou: Mateus, vem para cá e fala sobre o STEAM com um “A” no meio. O “a” é de Arts, ou Artes.
Eu acho que essa é exatamente a questão que você aborda na sua pergunta: desenvolver tecnologia, mas com um viés humano ou com um fim para a humanidade.
Vivemos em uma sociedade que alguns dizem que está na quarta revolução industrial, indústria 4.0 ou 5.0. Não importa muito a nomenclatura, mas é um momento de uma revolução tecnológica.
Os produtos cada vez mais são embarcados de tecnologias, e essas tecnologias têm o poder de capturar informação, analisar, tratar, filtrar, tomar decisões e agir. Inclusive, se você tem uma tecnologia que é física.
Até um tempo atrás, um carro podia ser um carro mais mecânico, e podia ser classificado como uma tecnologia neutra. Quer dizer, eu posso usar o carro para cometer um crime, para atropelar alguém por imprudência ou por vontade, ou usar o carro para transportar produtos, pacientes, salvar vidas.
Nós temos um viés de que a tecnologia é mais neutra. Mas quando você tem um carro que filma, que analisa o ambiente, que coleta informação, que processa, responde rápido e dirige sozinho, já é um veículo autônomo.
Alguém precisa programar isso, alguém tem que falar como isso vai funcionar. Nesse momento, a tecnologia para de ser neutra. Ela tem valores e valores embutidos por quem a desenvolve.
É importante que os estudantes que têm um viés tecnológico, que acham que é só ciência, tecnologia, matemática e engenharia, entendam que isso não é suficiente.
Mais do que conhecimentos técnicos, é importante que os estudantes desenvolvam valores como compaixão, empatia e respeito ao lado humano.
Por exemplo, um carro autônomo pode se deparar com uma situação em que precisa escolher entre atropelar uma pessoa ou colocar em risco a vida de outras pessoas. Como o carro vai fazer essa escolha?
É importante que os desenvolvedores de tecnologia tenham esses valores em mente para que as tecnologias sejam desenvolvidas de forma ética e responsável.
E como podemos inserir esses valores nos currículos dos cursos técnicos?
Eu acho que não é uma questão ideológica, mas uma questão prática. Equipes mais diversas trazem mais valores para o desenvolvimento de tecnologias. Essa diversidade pode envolver vários aspectos, como raça, cor, religião, nacionalidade, etnia, gênero, orientação sexual e deficiência.
É importante que os cursos técnicos valorizem a diversidade e incentivem o desenvolvimento de valores humanos nos estudantes.
Muito obrigado, professor Mateus.