Olá, estou aqui com a Carla, gerente de educação corporativa da Vale, para falar sobre desenvolvimento de competências por meio do voluntariado. Eu sou Wagner Cassimiro e este é o Espresso3.
Carla, como o programa de voluntariado da Vale está conectado ao desenvolvimento de competências?
Bom Wagner, foi uma feliz coincidência. Recentemente, nós tivemos a vinda para a estrutura de RH da área de voluntariado da Vale, que já era uma área muito consolidada, muito organizada e estruturada. No trabalho de integração tivemos a sorte de ter uma pessoa que era nossa coordenadora de voluntariado, com uma cabeça superaberta, muito antenada com tudo que estava acontecendo de mais moderno no voluntariado e ela nos fez uma provocação: “Você sabe que já podemos oficializar, formalizar o desenvolvimento de competências por meio do voluntariado? Por que a Valer não se aproxima disto para construirmos um trabalho juntos?”.
Foi por esta provocação que começamos a conhecer um pouco mais do que estava acontecendo no mercado em relação a este tema.
Foi interessante, pois no final do ano passado, o Conselho Brasileiro de Voluntariado divulgou uma nota falando dos trabalhos que foram feitos ao longo do ano, das discussões com grupo de empresas que compõem este conselho, justamente tentando encontrar o caminho para o desenvolvimento de competências por meio do voluntariado. Porque é inegável que tanto o empregado quanto a empresa se beneficiam de um programa como este nos quesitos de imagem, engajamento, reputação, mas ainda não tínhamos tanta clareza em relação aos ganhos para o desenvolvimento de determinadas competências.
Você poderia me falar quais competências poderíamos desenvolver?
Olha Wagner, uma infinidade delas. É claro que uma ação de voluntariado mobiliza muitas questões atitudinais e comportamentais. Então num primeiro momento, trabalhar coisas que são muito típicas de Recursos humanos e que toda hora estamos buscando parceiros para fazer trabalhos, como team-building, fortalecimento dos times, trabalhos ligados a comunicação. Todos estes aspectos mais comportamentais vão muito bem, são muito bem associados ao trabalho voluntário, porque durante uma experiência de voluntariado o empregado precisa articular determinados recursos internos que no dia-a-dia ele não consegue pois não é estimulado. Ele tem contato com uma diversidade muito grande, ele tem contato com escassez. Já passando para outros tipos de competências que esta ação pode desenvolver, as questões ligadas a adaptabilidade, flexibilidade, solução de problemas, organização, planejamento…
Eu tenho que oferecer o máximo possível dentro de um cenário extremamente limitado que é o trabalho voluntário. Toda a parte de angariar recursos, mobilizar esforços de pessoas que estão tão ocupadas, tão envolvidas em outras coisas, isto de fato mobiliza e faz com que os profissionais que passam por esta experiência possam potencializar essas competências.
Carla, o que que é necessário para construir um programa de voluntariado?
Para construirmos uma solução destas, temos que ter basicamente duas frentes, uma frente estruturada de um programa de voluntariado, com profissionais que sabem exatamente o que é necessário para a entrar numa instituição e realizar um trabalho, as questões de segurança que estão implicadas nisto e toda a documentação que regula esta relação entre a empresa e a instituição beneficiada.
Preciso também de um profissional que é experiente no desenho de solução educacional para fazer este paralelo em encontrar a atividade certa para cada tipo de necessidade, então eu diria que isto é um desafio, mas chegamos a construir uma matriz de algumas competências para algumas das atividades que a gente tem tipicamente feito aqui na Vale dentro do programa de voluntariado. Este casamento é que garante que a gente consiga ter um melhor resultado.
Mas basicamente ela segue o desenvolvimento como o de qualquer outra solução educacional.
Eu preciso fazer contato com meu cliente, entender quais são as demandas, as necessidades de desenvolvimento que ele tem e óbvio, não é uma solução para tudo, mas se essa escuta tiver elementos como: “minha equipe precisa ganhar um pouco mais de flexibilidade”, “eu estou percebendo que o time não está tão coeso”, ou qualquer um destes aspectos de organização/planejamento, eu posso tentar encontrar atividades de voluntariado que estimulem o desempenho, a execução destas competências.
Precisamos de um facilitador também, não é só a ação de voluntariado isoladamente. Eu tenho o acompanhamento de um profissional em todas as etapas do processo, desde o convite aos participantes, porque diferente de uma ação educacional que a empresa diz que vai oferecer para o empregado, uma ação de voluntariado precisa ter a contrapartida de ser uma participação voluntária.
Entendemos que a ação não se resume ao evento, ao dia do voluntariado, tem todo um trabalho de envolvimento dos grupos de planejamento, de organização que antecede o evento em si e onde podemos ter lideranças emergindo, pois tiramos a questão da hierarquia, estamos ali com um propósito muito maior. A questão do voluntariado tem um alcance nas pessoas que é sensacional. Em termos de envolvimento para fazer uma experiência de pre-work, por exemplo, em uma ação de voluntariado é completamente diferente de uma ação formal que já estamos acostumados, onde você tem que ler alguma coisa, discutir em grupo e as pessoas não estão tão abertas. Quando dizemos que é para um trabalho como este, as pessoas se abrem e se engajam de um a outra forma.
E depois para consolidar a aprendizagem?
Preparamos um facilitador interno que fez todo o acompanhamento do grupo neste pre-work, como se fosse em uma solução educacional mesmo. No dia do evento ele acompanhou todo o trabalho com a instituição beneficiada e ao final fez como um consultor de uma empresa contratada faria, um debriefing, um processamento daquela experiência, uma atividade junto com os participantes e um acompanhamento posterior desta ação.
Tivemos frutos disto depois do evento. Temos grupos que estão hoje extremamente integrados, inclusive em causas que extrapolam a realidade de execução de processos internos da empresa. O ganho, o impacto disto e a mobilização das pessoas, antes, durante e depois da ação se mostrou na nossa experiência infinitamente maior do que se tivéssemos utilizando uma solução educacional tradicional.
OK, Muito obrigado.